O Teatro na Escola Pública: o sistema de Viola Spolin, a formação docente e a prática com jogos teatrais
Autor:
Prof.° Dr. Jorge Wilson da Conceição
ISBN
978-65-5379-363-7
DOI:
10.47573/aya.5379.1.185
N° páginas:
143
Formato:
Livro Digital (PDF)
Publicado em:
18-11-2023
Área do Conhecimento
Ciências Humanas
Licença:
Em 1964, com um atraso de quase trinta anos de sua primeira publicação, chega ao Brasil A Preparação do Ator, de Constantin Stanislavski, diretor e encenador russo. Como uma espécie de manual para atores, o livro popularizou-se rapidamente e passou a ser referência para o ensino de teatro. Os outros dois livros, A Construção da Personagem, e A Criação de um Papel, publicados posteriormente, não foram tão lidos e aplicados aqui no país, como o primeiro. Assim, oficinas e aulas de teatro, bem como a preparação de atores amadores e profissionais, passaram a pautar sua atuação na proposta da memória afetiva, que, de forma resumida, significa que o ator deve buscar na memória por sentimentos já vividos para representar os sentimentos que a personagem vive na cena. A crença era de que só seria possível fazer a plateia acreditar no trabalho do ator, se este [re]vivesse realmente o sentimento que queria expressar. Apesar de Stanislavski mudar o rumo de experimentação no segundo livro, encontrando uma representação baseada na ação física, a memória afetiva continuou sendo a caminho de preparação no Brasil. Essa proposta durou décadas e dominou o ensino de teatro até o final do século, não tendo se esgotado aí.
Em 1979, chegava ao Brasil a primeira obra de Viola Spolin, Improvisação para o Teatro, traduzido por Ingrid Koudela. A obra foi e continua sendo referência para o ensino de teatro, seja na prática de grupos amadores, profissionais ou em escolas e oficinas de teatro para iniciantes. Entretanto, a proposta não se espalhou pelos cursos de formação de professores de arte, com licenciatura específica em Teatro, da noite para o dia. Stanislavski continuava sendo a maior referência, mesmo nas faculdades. Como qualquer mudança significativa no campo da educação, levou tempo para que essa proposta de ensino ganhasse notoriedade e se popularizasse entre atores, diretores, preparadores de atores e professores de todas as instituições.
Outro ponto importante quando falamos do ensino de teatro é a questão da regularização da disciplina de Arte na escola de ensino básico. Isso porque só em 1971, através da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – a Arte passou a fazer parte do currículo, com a denominação de Educação Artística. Como a própria nomenclatura, a proposta era difusa, visto que arte não era disciplina, e sim uma atividade educativa. Percebe-se nisso o valor da arte no currículo de então. Os professores de Educação Artística deveriam ensinar as quatro linguagens da arte para os alunos em duas aulas semanais, ou seja, uma visão polivalente desse professor, o que influenciou nas propostas de ensino superior para a área. Vale ainda lembrar que estamos falando de um período difícil da história do Brasil, a ditadura militar. Entretanto, foi com essa LDB, que os currículos dos cursos de teatro em nível superior foram reformulados pelo Conselho Federal de Educação, e então surgiu a Licenciatura em Educação Artística/Habilitação em Artes Cênicas, bem como o Bacharelado em Artes Cênicas, inclusive com as habilitações específicas definidas, a saber: Direção Teatral; Cenografia; Interpretação e Teoria do Teatro. Isso representou grande avanço no ensino de Arte/Teatro na educação. Mas é preciso considerar que, uma vez que não havia professores especialistas formados ainda, o ensino de arte adotou a visão tecnicista daquele período, tendo o desenho técnico ganhado notoriedade nas escolas, por exemplo.
Quais as referências para o ensino superior de licenciatura que havia na época? Lembrando que a área não contava com publicações abundantes na época, podemos entender que uma grande referência foi o já renomado método de Stanislavski, como falamos acima. Podemos mencionar o importante trabalho de Olga Reverbel como uma das pioneiras na formação de professores para o ensino de “Arte dramática’’, mas ponderando que o seu foco eram os professores que atuavam no ensino infantil, aplicando propostas de jogos dramáticos para as crianças.
Somente em 1996, com a nova LDB, Lei nº 9.394/96, é que arte passa a ser obrigatória em todos os anos da educação básica e a disciplina recebe a denominação de Arte (e não Artes, como muitos ainda dizem). O objetivo passa a ser o de promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
É a partir de movimentos de artistas e intelectuais pelo ensino de arte, e das mudanças que culminaram na LDB de 96 e continuaram atravessando a virada do milênio, que o ensino de arte foi se renovando, e a figura do especialista foi ganhando evidência. Assim, surgiu, entendimento de que o ensino de arte pudesse ser pensado a partir de uma única linguagem e o professor pode estabelecer conexões, paralelos, com as outras linguagens. É isso o que a proposta curricular de 2008 veio apresentar, um ensino cujo objeto de apreciação e análise era a arte contemporânea, e não uma aula pautada na História da Arte ou em técnicas de desenho e pintura, tão comum até então. O novo currículo do Estado de São Paulo, oficializado em 2009, trazia no material didático da Secretaria da Educação, para professores e alunos, situações de aprendizagem nas quatro linguagens, podendo o professor optar por aquela de sua especialidade. E aí entrava propostas com jogos que faziam referência ao sistema de Spolin.
Nosso estudo teve início em 2008, justamente quando o currículo estadual havia sido implementado como proposta ainda. Nessa conjuntura, achamos relevante um estudo que se debruçasse sobre a obra de Viola Spolin, analisando os aspectos pedagógicos dos jogos teatrais e sua potência para o ensino de teatro no ensino básico, em específico, com foco no ensino de teatro para estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, bem como procurasse entender se os professores com formação em Artes Cênicas conheciam, tinham tido esse conteúdo em sua formação acadêmica, e, por consequência, se os jogos integravam a prática na sala de aula. É esse o mote para a pesquisa que agora ganha formato de livro. Esperamos que esta obra vá ao encontro dos seus interesses, contribuindo com os estudos da área de Teatro Educação.
Prof.° Dr. Jorge Wilson da Conceição
Jorge Wilson da Conceição
Doutor em Letras e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é graduado em Letras. Participou da edição 2013 do International Leaders in Education Program (ILEP), programa de formação docente na Universidade de Kent State, em Ohio/USA, com estágio em escola americana de Ensino Médio. É professor dos cursos de Letras e Pedagogia, Membro do NDE, Coordenador do Departamento de Pesquisa e Extensão e Membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) do Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade (UniDrummond). Também atua como Editor Executivo e membro do Conselho Editorial da Revista Acadêmica Drummond (READ). É Técnico Curricular de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Também tem experiência em docência no ensino básico e na coordenação pedagógica, bem como em formação docente.