O labor do mercador medieval (Século XII)
Autor:
Prof.° Me. Raimundo Carvalho Moura Filho
ISBN
978-65-5379-281-4
DOI:
10.47573/aya.5379.1.153
N° páginas:
73
Formato:
Livro Digital (PDF)
Publicado em:
27-07-2023
Área do Conhecimento
Ciências Humanas
Licença:
Formados por uma tradição historiográfica erigida sobre a lógica dos “recortes”, os docentes de história medieval das universidades brasileiras costumavam planejar seus cursos distribuindo o conteúdo entre uma parte dedicada à história política, outra à história da cultura e uma terceira à história econômica. A despeito das exceções, esse comportamento mais ou menos generalizado justifica-se: quando estudantes, muitos tiveram aulas que seguiam a mesma lógica. Contudo, a renovação na historiografia tem recentemente influenciado uma nova geração de medievalistas e feito surgir cursos cada vez mais inovadores e condizentes com o tempo que vivemos: a desconstrução atrelada ao rótulo generalista de pós-moderna e suas diferentes “viradas” (da já cansada “virada linguística” a mais jovem e mais disposta “virada decolonial”), os estudos de gênero e a teoria queer, as possibilidades do campo chamado de humanidades digitais, a noção de Idade Média Global, até mesmo o recente interesse pela História Pública e o uso de memes em pesquisas na área, tudo isso tem modificado o antigo padrão no ensino de história medieval em cursos de graduação em História no Brasil. Mas, independente desse cenário (positivo, a meu ver), aqueles que queiram privilegiar os “recortes” supramencionados costumam esbarrar em um obstáculo: o relativo abandono da história econômica entre os medievalistas.
A enorme influência da Nova História francesa e seu enfoque nos aspectos culturais, bem como o crescente desinteresse pela abordagem marxista das relações produtivas, tem feito com que os temas que rotulamos de “sócio-econômicos” (mas que se pode, sem ferir o preciosismo da terminologia, chamar de aspectos materiais da existência) escasseiem no âmbito das pesquisas mais recentes. Como abordar esse recorte sem recorrer a uma historiografia datada? Se a produção em língua estrangeira não é traduzida e, por aqui, estamos quase todos chafurdados na história da cultura e das relações de poder, não é muito fácil manter vivo o interesse por temas como trabalho, relações de produção, dinheiro, comércio.
Felizmente, este livro é um exemplo de que temáticas aparentemente esquecidas ainda podem surpreender – e sendo o autor um jovem e promissor medievalista é algo que renova ainda mais nossas expectativas. Que as considerações anteriores sobre o lugar dos aspectos econômicos e a predominância do olhar voltado às representações não iludam o leitor: não se trata aqui de um estudo de história econômica stricto sensu. O que temos em mãos é um estudo sobre o imaginário social acerca dos mercadores. Todavia, é um estudo no qual o autor se preocupa em amarrar as pontas da trama. Estão amarradas questões como o contexto (não só do período abordado, mas também do período anterior, denotando a preocupação com a compreensão geral do fenômeno), o acesso às fontes e a produção de discurso. Obviamente, isso tudo associado aos resultados da análise permite ao autor apresentar um estudo honesto e maduro. Considerando-se os limites do tempo (visto que se trata do produto de uma pesquisa de graduação) e da experiência, não há razão forte o suficiente para ignorar que, embora pisando no terreno da cultura, o autor acerta ao resgatar essa figura, o mercador. Ao mesmo tempo arquétipo e personagem histórico, essa figura com a qual nos familiarizamos a partir dos textos de Jacques Le Goff permite a interseção entre uma abordagem do imaginário e uma ancoragem nos aspectos materiais das trocas e da subsistência.
Como sempre fazemos no meio acadêmico ao nos deparar com algo promissor, resta apenas registrar meus votos para que abordagens como a deste livro possam inspirar mais pesquisas similares. Pode até parecer, em um coup d’oeil superficial, que os estudos medievais no Brasil não fazem mais do que repetir o que já sabemos, mas se atentarmos para a originalidade com que os medievalistas brasileiros solucionam suas questões de pesquisa, verificaremos o tamanho do potencial que temos para inovar e servir de exemplo.
Prof.° Dr. Marcelo Santiago Berriel
Professor Associado de História Medieval da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Raimundo Carvalho Moura Filho
É professor efetivo de História desde de 2020 na rede de educação básica de Imperatriz/MA. É licenciado em História (UEMASUL, 2017) e em Pedagogia (Grupo Educacional IBRA, 2022).Tem Pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL). É mestre em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás. É Membro/pesquisador do Núcleo de Estudos Multidisciplinares de História Antiga e Medieval (NEMHAM-CNPq/UEMA) e do Laboratório de Estudos Medievais (LEME/UFG). Cursa doutorado em História no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. É pesquisador na Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM). No mestrado estudou as representações acerca dos ideais de vida religiosa eremítico e cenobítico, a partir de discursos hagiográficos (vida de santos) entre os séculos XI e XII. Tem experiência em História da Igreja medieval e em História da Filosofia, com ênfase em Filosofia Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia afetiva, as concepções acerca da alma e do corpo, e relações interpessoais nos escritos do abade cisterciense Aelredo de Rivelaux (1110-1167 d.C).
Sumário
-
Capítulo 1
Por que educar é um ato de resistência?
Walquiria Marcelina de Almeida, Kátia Regina de Souza da Silva e José Guilherme de Oliveira Castro
DOI: 10.47573/aya.5379.2.87.1
Páginas: 10-20