Civilizações, escrita e história (uma viagem de 14 bilhões de anos)
Autor:
Sandoval Amui
ISBN
978-65-5379-060-5
DOI:
10.47573/aya.5379.1.59
N° páginas:
145
Formato:
Livro Digital (PDF)
Publicado em:
09-08-2022
Área do Conhecimento
Ciências Humanas
Licença:
Prezado leitor:
Este livro, de cunho educativo e destinado ao público jovem interessado em aumentar o conhecimento sobre nosso mundo e nossa espécie, tem como tema central a Escrita, a ferramenta criada pelo ser humano para se comunicar em forma gráfica com seus semelhantes ou apenas para registrar seus sentimentos e impressões sobre sua própria existência e tudo que o cerca no Universo. De uma forma rudimentar de caracteres e desenhos nos primórdios da Humanidade, os registros rupestres, e algumas protoescritas posteriores, a versão mais difundida é que a Escrita se desenvolveu nas primeiras Civilizações, mais especificamente na mesopotâmica dos sumérios e na egípcia antiga, época a partir da qual foi possível fazer o relato dos acontecimentos que, de alguma forma, interessaram ou se relacionaram com a nossa espécie ao longo dos tempos. O surgimento da Escrita marca, assim, o início do que conceituamos como História, os registros escritos que marcaram a Humanidade desde as primeiras Civilizações que nos antecederam até a atualidade. Fica claro que Civilizações, Escrita e História são temas intimamente relacionados, que não podem ser estudados como assuntos independentes.
A Escrita é uma característica da espécie humana, pelo menos para aqueles que ocuparam o planeta em tempos bem recentes. Para falar dela, temos de situá-la no espaço e no tempo, o que nos remete ao aparecimento da Humanidade e, consequentemente, à formação e evolução da própria Terra, o planeta onde vivemos e do qual dependemos para tudo, a nave espacial que nos leva pelo espaço imenso do Universo. Para que nossa abordagem da Escrita fique mais interessante, situando-a em um contexto ainda mais amplo, vamos partir do começo do Universo, tal como majoritariamente aceito pela ciência, passar pelo aparecimento da Terra, chegar à Humanidade e, então, destacar o surgimento quase concomitante das primeiras Civilizações e da Escrita. Para concluir, falaremos dos acontecimentos que a criação da Escrita permitiu registrar e que denominamos de História. Trata-se de uma viagem imaginária e muito longa, da ordem de 14 bilhões de anos, que pretendemos resumir neste texto.
Ao descrever essa viagem épica adotamos a grafia de algumas expressões com a inicial maiúscula, como Universo, Terra, Humanidade, Civilização, Escrita, História e Imprensa, apenas para destacar a relevância de tais expressões no contexto discutido.
Cumpre lembrar que muitos aspectos desses grandes temas acima citados, o Universo, a Terra, a Humanidade, a História das Civilizações e a Escrita, não são inteiramente conhecidos. Parte do que sabemos ou acreditamos saber resulta de observações do meio ambiente e de análises de camadas geológicas mais antigas, bem como de vestígios deixados por nossos antepassados, sendo, muitas vezes, apenas inferências ou deduções sugeridas pelos estudiosos que ao longo do tempo dedicaram-se a tais assuntos. Os escritos mais antigos encontrados, datados de poucos milênios, eram incompletos e versavam mais sobre a contabilidade de agricultores e comerciantes, além de tributos vigentes, sendo relativamente parcos em termos da sociedade, cultura, usos, costumes e valores dos agrupamentos de pessoas da época, as primeiras Civilizações mesopotâmicas. Com o aperfeiçoamento da Escrita, os registros históricos se tornaram gradativamente mais detalhados e permitiram alcançar outros aspectos das Civilizações que foram se sucedendo, ainda que sujeitos a certo desvirtuamento da realidade dos fatos, conforme a conveniência ou motivação de quem detinha o poder sobre tais registros: o inevitável descompasso entre o “fato histórico” e a “versão histórica do fato”.
Assim posto, para chegar à Escrita, depois de algumas pinceladas sobre o Universo, com comentários breves sobre o aparecimento e a evolução de nosso planeta, desde os primórdios de sua formação por poeira e gases resultantes da explosão do ovo cósmico (o Big Bang), como um dos satélites do Sol, nosso astro-rei, seguiremos até os dias de hoje, passando pelas diversas Eras em que a geologia da Terra está dividida. Nesta abordagem superficial, destacaremos eventos de interesse para a identificação do aparecimento do homem no decorrer da vida da Terra. Verificaremos que, segundo os estudiosos, a Terra se formou há 4,6 bilhões de anos, mas os primeiros seres, aceitos como ancestrais do homem moderno, os hominídeos, apareceram por volta de 5 a 6 milhões de anos atrás, indicando que, em termos geológicos, a Humanidade começou “ontem”, é “recém-nascida”.
Uma vez situado o homem na vida da Terra, chegaremos finalmente ao objeto do livro, a criação da Escrita, entre cinco e seis milênios atrás, e seu desenvolvimento com o emprego de caracteres gráficos que, sistematicamente usados, permitem que a comunicação em forma escrita aconteça, tal como a entendemos hoje. Trata-se de mera convenção, pois uma certa forma de comunicação gráfica existiu desde a Idade da Pedra, pelo menos, quando o homem primitivo pintou ou entalhou as primeiras ilustrações rupestres nas paredes das cavernas que habitava. Observaremos que, na escala temporal, se geologicamente falando o homem apareceu “ontem”, a Escrita surgiu “há alguns minutos”, acabou de nascer. O evento da Escrita, permitindo o registro dos acontecimentos, caracteriza também o início da História.
Assim, com as primeiras Civilizações mesopotâmicas surgiu a Escrita e, com esta, a História, o que determina estreita correlação entre esses três eventos. Os acontecimentos anteriores à criação da Escrita fazem parte do período que denominamos de Pré-História, pela simples razão de que não temos registros escritos à época desses acontecimentos. O advento da Escrita nos permitiu escrever sobre a Pré-História, retratando apenas a visão que temos hoje do que ocorreu ou possa ter ocorrido no passado. Cumpre salientar, porém, que as primeiras iniciativas de comunicação escrita podem ter ocorrido na Pré-História e serão mencionadas superficialmente neste texto.
A História, como nos é apresentada, se divide em períodos ou idades denominadas Antiga, Média, Moderna e Contemporânea, cada uma delimitada por algum evento marcante, como a introdução da Imprensa de tipos móveis por Gutenberg no Século XV. Neste texto, procuramos situar os acontecimentos importantes sobre a Escrita no cenário em que se desenrola a História. Por essa razão, mas sem perder o foco, abordamos, ainda que muito superficialmente, alguns dos eventos socioeconômicos, culturais e militares que fizeram parte da História, como os Grandes Impérios, o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Industrial, a Revolução Francesa e os Grandes Descobrimentos. Ainda que despretensiosamente, sugerimos que já estamos vivendo uma nova idade, a qual denominamos de Idade Espacial.
A História faz referência a Grandes Impérios, povos ou nações que dominaram vastas áreas e subjugaram diversos outros povos, em geral como resultado de guerras, com especial destaque para o Império Romano, que tanto influenciou as Civilizações que vieram depois. Renascimento e Iluminismo foram, em essência, movimentos culturais. A Revolução Industrial, evento de cunho socioeconômico, representou uma guinada nos meios de produção de bens e transição do regime feudal para o capitalismo. A Revolução Francesa foi basicamente um movimento social de confronto entre classes (de um lado a nobreza e o clero, de outro, o povo) para tentar terminar com o absolutismo monárquico e o poder eclesiástico, com o objetivo de introduzir a democracia. Por fim, os Grandes Descobrimentos foram verdadeiras aventuras que expandiram o mundo até então conhecido, colocando em contato populações que estiveram separadas por milhares de anos, como os antigos habitantes das Américas, modificando radicalmente a ocupação de nosso planeta pelo homem. Todos esses eventos, ademais de guerras diversas que igualmente transformaram o mundo, influenciaram-se reciprocamente e, em conjunto, determinaram o rumo de nossas vidas até os dias de hoje.
Uma das preocupações que tivemos ao falar desses acontecimentos que marcaram a História foi a de situar cada um deles cronologicamente no contexto geral dos eventos. Uma dificuldade comumente enfrentada por alunos quando estudam a História decorre da falta de conexão entre tais acontecimentos. São estudados como eventos estanques, quando na verdade estão profundamente inter-relacionados. Poucas pessoas seriam capazes de dizer que a tão conhecida Revolução Francesa teve lugar no mesmo ano em que a Inconfidência Mineira ocorreu, bem como que ambas foram influenciadas pelas ideias iluministas que as antecederam.
Sendo a Escrita o foco central deste trabalho, além de tratar da questão de seu aparecimento e os primórdios de seu emprego, buscamos ainda abordar temas correlatos, como o seu desenvolvimento ao longo dos tempos, falando dos diversos tipos de Escrita, de letras e de alfabetos, do emprego de algarismos, bem como do uso da caligrafia e da forma impressa de escrever. Desse modo, como elementos relacionados à Escrita, abordaremos sucintamente algumas criações como a Imprensa, a máquina de escrever, o computador e outros avanços tecnológicos da informática. Desnecessário dizer que a abordagem, por seu cunho geral, não pretende cobrir exaustivamente nenhum desses temas, que são vastos e, ademais, controversos, mas tão somente propiciar ao leitor jovem uma visão de conjunto concatenada e de caráter introdutório. Mais que isso, despertar a sua curiosidade para os temas aqui tratados.
Mesmo na contramão dos fatos, manifestamos preocupação com a tendência atual de relegar a plano secundário a arte de escrever, tanto em termos literários quanto visuais, privilegiando a comunicação escrita simplificada e a via oral propiciada pela tecnologia moderna, e enfatizamos a importância do método ortodoxo de escrever à mão, por entender que ele não perderá a sua utilidade, pelo menos a curto prazo. Não que sejamos contrários ao uso da tecnologia moderna, mormente os atuais computadores, mas entendemos que uma coisa não invalida a outra. Lembramos ao caro leitor que, além do prazer de escrever à mão, há o inegável fato de que esses recursos tecnológicos nem sempre estarão disponíveis. Sem pretender limitar o uso das máquinas modernas, a dependência delas, que já é enorme, não deve ser absoluta.
Outro aspecto lamentável, que seria preferível não ter que referir a ele, é o analfabetismo, fato que causa, ou pelo menos agrava seriamente, todos os demais problemas enfrentados pelas sociedades. Como salientamos, a Humanidade convive com a habilidade de escrever há milênios e, ainda hoje, uma parcela significativa da população mundial, talvez, até a maioria, permanece analfabeta. Não dispomos de dados estatísticos confiáveis, mas há indicações de que, no mundo e especialmente em países menos desenvolvidos, os analfabetos representam um contingente assustador. Governantes adotam a falácia de considerar alfabetizado o cidadão que conhece as letras, os números e é capaz de escrever e ler alguma coisa, bem como aquele que apenas sabe assinar o nome. Por ser capaz de assinar o próprio nome ou escrever e ler alguma coisa, um indivíduo não é menos analfabeto que qualquer outro. Isso porque, há um grande número de pessoas que, mesmo sabendo reconhecer letras e números, não se mostram aptas a interpretar corretamente o que leem, não dominam as operações aritméticas básicas ou demonstram capacidade bem abaixo da que deveriam ostentar em virtude da faixa etária em que se encontram: são os analfabetos funcionais, o que significa que, embora formalmente alfabetizados, não sabem usar satisfatoriamente o que aprenderam.
Os assuntos abordados neste livro abrangem quase tudo que há no Universo e nenhum livro, por mais volumoso que fosse, poderia cobrir tudo de modo exaustivo. O tema da Escrita, se abordado de modo específico e exclusivo, como em muitas obras disponíveis no mercado, certamente lançaria muito mais luz sobre o assunto. Não obstante, fizemos a opção de inseri-lo em contexto bem abrangente para tornar a leitura mais relaxante, através de uma viagem imaginária e lúdica de quase 14 bilhões de anos.
Como sinal dos tempos modernos, dispomos atualmente de magnífica e imensa fonte de informações, que é a internet. Nesse inesgotável manancial, cada dia, mais amplo, é possível obter subsídios sobre qualquer assunto. Em que pese a existência de informação equivocada, sempre é possível separar a boa informação mediante pesquisa meticulosa, especialmente pelo confronto do tema pesquisado em mais de uma fonte disponível. Em trabalhos de escopo tão abrangente, como este que ora oferecemos ao leitor, não seria diferente. A internet serviu como uma das fontes de consulta e o Autor agradece a todos quantos colaboraram, deixando de fazer registros específicos pela inviabilidade da tarefa.
A Escrita foi o alvo final a ser atingido neste texto, mas, para chegar a ela, falamos também de vários outros assuntos de nossas vidas. Contudo, nosso real objetivo foi provocar a curiosidade do jovem leitor no sentido de que se motive a buscar novos conhecimentos, indo além daquele que apresentamos sobre cada um dos assuntos aqui discutidos. Se este texto despertar o interesse de jovens estudantes por qualquer um dos temas tratados, teremos alcançado nosso objetivo primário e nos sentiremos inteiramente recompensados pelo trabalho de levar adiante a elaboração deste livro.
Sandoval Amui
Sandoval Amui
O autor nasceu no dia 3 de março de 1939, em Sacramento, Minas Gerais. Graduou-se em engenharia civil pela Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, tem mestrado em engenharia de petróleo pela Louisiana State University, e pós-graduação em engenharia marítima pela The University of Texas at Austin. É também advogado, pela Universidade Cândido Mendes, graduado na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Aposentou-se em 2020, depois de muitos anos de trabalho com companhias petrolíferas e escritórios de advocacia, nacionais e internacionais. No decorrer de sua longa carreira, publicou artigos e livros sobre temas técnicos e jurídicos, bem como ensaios, contos e livros sobre literatura geral. Recentemente, tem dedicado seu tempo a outras atividades literárias, que incluem artigos e livros sobre geometria e matemática, área do conhecimento humano que nunca teve como atividade profissional, nos quais propõe conceitos inovadores e polêmicos, numa abordagem de raciocínio livre, totalmente desvinculado de teorias e conceitos preestabelecidos e consagrados, assim como livros sobre cultura geral destinados ao público infanto-juvenil.